Nas últimas horas, testemunhamos duzentos anos de história se tornarem cinzas. O Museu Nacional, integrante do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, incendiou no início da noite desse domingo (02), e um acervo com mais de 20 milhões de itens foi perdido. A memória do país vira pó às vésperas de uma acirrada eleição presidencial, quando a preservação da cultura e dos patrimônios deveriam ser prioridade, mas são discursos de barganha na corrida pelo Planalto. Em tempos de golpes e com um congelamento nos investimentos iminente, a omissão da sociedade também faz a chama da destruição arder por sobre o país. Lutar por investimentos e contra abates é nosso dever como docentes e cidadãos.
Nós, que fazemos a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco, entendemos que, muito além do sinistro, o incêndio num dos maiores acervos da história brasileira não é apenas uma fatalidade. O Museu Nacional estava com departamentos fechados há mais de 15 anos, salas interditadas por falta de manutenção, parte do teto desabando entre os visitantes. O relicário de nossa origem foi apagado com perdas irreparáveis, mas essa tragédia não aconteceu de ontem para hoje.
A sociedade agoniza nas mãos de um Governo Federal que, em seu primeiro ato documentado, ainda como presidente interino, extinguiu o Ministério da Cultura, das Comunicações, das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Uma gestão que quer impor uma Base Nacional Curricular Comum sem ouvir os maiores interessados, estudantes e professores. Com um ensino de história cronológico, mas que não abre espaço para reflexão sobre os impactos políticos e sociais dos fatos no cotidiano.
O fogo que consumiu o Museu Nacional não foi apagado. Ele segue candente por todos os lados. Alastra-se na educação, saúde, segurança e economia. Invade nossas casas, queima nossos direitos e ideais. É preciso dar um basta. Em outubro, vamos às urnas para escrever um novo capítulo do nosso país. É urgente inserir representantes que cuidem para que as próximas páginas não evaporem no correr dos dias.
“Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso”.
BRECHT, Bertoldo