Mesa-redonda comenta os percalços relativos à docência, ao tempo, ao ócio e à precarização no último dia do evento
A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (ADUFEPE) iniciou o último dia do II Congresso UFPE em Debate, promovendo a mesa-redonda Universidade e Produtividade, no Auditório Paulo Rosas. O psicólogo Mário César Ferreira (UnB) e filósofo e doutor em Educação Valdemar Sguissardi (UFSCar) discutiram o tema sob a coordenação de Fernando José do Nascimento (UFPE/ADUFEPE).
No debate, temas como relação entre qualidade e trabalho, tempo e trabalho, produtividade e produtivismo, pós-graduação e produtividade foram abordados. As discussões consideraram os novos meios de trabalho, as redes e mídias sociais, o tempo e a articulação no ambiente de trabalho.
“A lógica produtivista fomenta doenças. É necessário, em um primeiro momento, fazermos a distinção entre produtivismo e produtividade”, afirmou Fernando José do Nascimento. O debate feito pelos acadêmicos dimensionou as atuações das “produtividades” e “produtivismos” no âmbito acadêmico brasileiro, suas causas, consequências, organizações e articulações. O primeiro conceito seria referente ao sentido inicial da palavra, produtividade como capacidade de articulação e rentabilidade; o segundo estaria ligado à noção de opressão, à regulação exercida por algumas agências.
Em sua fala, Sguissardi manteve a sintonia com suas linhas de pesquisa, citando as relações políticas de educação e poder. “O tempo da economia transforma o tempo da pesquisa”, destacou. O acadêmico discorreu sobre a precarização dos docentes no que se refere ao tempo e ao tempo para o ócio. “O produtivismo só tem possibilidade de acabar quando a Capes deixar de possuir esse papel de player, jogador central”, ressaltou. “As agências de regulação e financiamento com seus métodos de avaliação exercem um controle exacerbado”, salientou Sguissardi ao comentar sobre a falta de autonomia da pós-graduação no cenário brasileiro.
Como contraponto, Mário César Ferreira focou o tema da mesa a partir do prisma da psicologia social, sua área de estudo. “Esse é um tema absolutamente contemporâneo e atual. Ele reflete uma série de transformações que estão ocorrendo do mercado de trabalho de uma maneira geral. A partir da década de 90, se acelerou o processo de metamorfoses no ambiente de trabalho e isso tem produzido um impacto não apenas nas organizações, no modo de trabalhar, mas especialmente do ponto de vista do bem-estar e da saúde dos trabalhadores”, alertou.
“Os relatórios governamentais das agências, a exemplo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) têm demonstrado um adoecimento progressivo. Há um perfil epidemiológico muito característico da classe trabalhadora”, apontou. “Há as chamadas síndromes de esgotamento físico e mental, a chamada síndrome de burnout, que em alguns casos chega à fase do suicídio do trabalho”, exemplificou.
Os componentes da mesa discorreram sobre os modos de utilização da produtividade tanto para regulação, controle e de caráter exploratório, ocasionando patologias e psicopatologias nos trabalhadores, em especial, no cenário da universidade, no pesquisador/docente. O debate teve uma abordagem dupla interdisciplinar na leitura do conceito de produtividade no ambiente acadêmico e em outros espaços de relação trabalho.